Uma forma cortês

Alan Beals transcrevendo um texto de Robert Murphy, acerca dos índios Mundukuku, localizados no rio Madeira, descreve como padrões de comportamento às vezes não cobrem todas as situações possíveis. É-nos relatada a história de Biboi, filho de um chefe tribal que tinha sido educado por um comerciante brasileiro e se sentia superior a seus companheiros. Foi o comerciante que o nomeou capitão de Cabitutu. O papel do capitão consistia em servir de intermediário entre o grupo e as necessidades de comercialização do caucho por parte do comerciante. Em Cabitutu, Biboi não tinha parentes e era considerado muito jovem e por isso tinha menos prestígio que muitos homens do povoado.

O equilíbrio do poder e da moral favorecia os oponentes de Biboi, e o esforço dos que o apoiavam tornou-se cada vez mais difícil em virtude do fato de que Biboi havia quase deixado de ser uma pessoa social, as regras já não se aplicavam a ele. Muitos deixaram o local antes que caísse o pano deste pequeno drama social, mas já se podia prever a conclusão. Esta se tornou mais evidente após a saída do grupo que trabalha naquele local.

Biboi sabia que a sua vida como membro dos Mundukuku estava terminada.

Biboi é um homem que não se sente em nenhuma cultura. Não soube manejar as regras para viver bem na sociedade Mundukuku – ele se considerava muito superior a eles e acreditava poder ensiná-los. Estava colocado em um status que não lhe pertencia e onde não podia ter êxito já que não contava com o apoio de parentes. No final teve que escolher entre a morte ou o exílio.

Talvez você esteja se perguntando: "Mas a onde você pretende chegar com esta conversa sobre Biboi?"

Todos os membros da nossa sociedade sabem que uma forma cortês de solicitar algum tipo de favor é a de preceder o pedido com a expressão "por favor". Sabem também da necessidade de agradecer formalmente o atendimento conseguido com as palavras "muito obrigado", sob a pena de não mais conseguir nada de seu interlocutor se esquecerem de pronunciar estes simples vocábulos. O antropólogo Roque de Barros Laraia irá dizer que Estas palavras fazem parte de nossos padrões de comportamento e ignorá-las significa o rompimento de uma regra e, consequentemente, a impossibilidade de prever a resposta. Assim a solicitação de um favor em termos imperativos pode provocar, entre outras, as seguintes ações:

· O interlocutor atende ao pedido;

· Finge não ouvir o pedido;

· Nega em termos ríspidos atender ao pedido;

· Retruca com um forte palavrão.

Estas alternativas de comportamento que asseguram a possibilidade de uma previsão. As pessoas sabem como agir e podem prever a ação do outro, mesmo quando diante de um pai com o qual nunca teve um contato anterior.

Um candidato a um emprego sabe que o empregador dispõe apenas de duas alternativas básicas: conceder-lhe o lugar ou não. A surpresa ocorrerá, apenas, se o empregador agir de maneira inusitada, não prevista pelas duas possibilidades de resposta. Talvez você diga: "Eu ainda não entendi a onde você pretende chegar".

Nós seres humanos aprendemos por imitação. Durante interações sociais, o indivíduo pode modificar seu comportamento, como resultado da observação como as outras pessoas do grupo reagem.

Lembrei-me de um sermão sobre sermos agradecidos e não pude deixar de pensar no quanto esta geração aprendeu a manter um relacionamento com Deus como quem se relaciona com o gênio da lâmpada mágica: Eu ordeno e ele cumpre as ordens. Ele é meu escravo e precisa fazer tudo àquilo que eu desejo e após realizar tudo o que foi solicitado deve retornar a lâmpada até que eu solicite novamente a sua presença.

Comportamentos são adquiridos através do exemplo, da experiência direta e da interação com fatores estruturais. A personalidade é formada em grande parte através da aprendizagem.

Concentre sua observação no comportamento dos indivíduos em interação. As respostas comportamentais não são automaticamente produzidas por estímulos externos como a de um robô ou uma máquina, mas sim, as reações a estímulos são auto-ativadas.

Existiu um líder canadense que usava um cavanhaque e todos os pastores da denominação começaram a usar cavanhaque imitando o seu líder. Quando um reforço exterior altera o comportamento, ele o faz porque o indivíduo tem percepção consciente do que está sendo reforçado e antecipa o mesmo reforço por comportar-se da mesma maneira. Os homens não desejavam imitar apenas o uso de um estilo de barba, mas imitar a forma de ser, de pregar daquele líder.

A imitação é um princípio de aprendizagem em si próprio e pode-se fazer por reforçamento, seja ao próprio indivíduo, seja a um modelo. Essa capacidade para aprender pelo exemplo supõe a aptidão de antecipar e avaliar conseqüências apenas observadas em outras pessoas e ainda não vivenciadas.

Muitos padrões de comportamento são aprendidos através da observação de modelos. Que tipo de modelo cristão nós temos sido para esta sociedade?

Ao prestar atenção em nosso comportamento, o que esta sociedade está retendo? Que tipo de imagem e linguagem está entrando?

Sabemos que a sociedade irá armazenar mentalmente o formato ou a descrição verbal do modelo e depois relembra-lo e reproduzi-lo sobre seu próprio comportamento e o resultado disso são mais lâmpadas e mais gênios servindo aos seus senhores. E neste círculo o ser humano se afasta cada vez mais do Deus Pai e o que podemos perceber é uma sociedade perdida num labirinto correndo através do vento e no final de tudo estarão como Biboi – terão que escolher entre a morte ou o exílio. Por favor, pense nisso!

Obrigada!

Regina Lopes