Adam Parfrey certa vez disse: “Nenhum indício melhor se pode ter a respeito de um homem do que a companhia que freqüenta: o que tem companheiros decentes e honestos adquire merecidamente, bom nome, porque é impossível que não tenha alguma semelhança com eles”.

A amizade sempre será uma fonte de renovação, não retém a água para si. Dá espontaneamente. Nesta manhã ao meditar nas Escrituras Sagradas encontro um homem dizendo exatamente o contrário a respeito daqueles que chamava de amigo. No seu desabafo ele diz o seguinte: “O amigo deve mostrar compreensão e ajuda na hora de dificuldade, mas vocês estão me tratando como se eu tivesse negado a Deus e me revoltado contra Ele. Sim, vocês que são como irmãos para mim, acabaram me tratando falsamente. Vocês foram como os riachos que correm montanha abaixo, até o fundo dos vales. Quando a neve e o gelo do inverno derretem, eles correm cheios e rápidos, mas, quando vem o calor do verão, eles desaparecem. As caravanas saem de seu rumo para procurar água, mas nada encontram, e os comerciantes acabam morrendo de sede. As caravanas de comerciantes vindas de Temã e Sabá procuram esses riachos mas acabam sendo enganadas pois não encontram água para beber. Vocês foram como esses riachos para mim; eu esperava encontrar ajuda mas vocês se afastaram, espantados com a minha desgraça. Por quê? Por acaso eu pedi alguma coisa, algum consolo ou alguma ajuda? Por acaso pedi que vocês me livrassem desse sofrimento que Deus me deu? Tudo que eu quero é uma explicação para todo esse sofrimento; eu me calarei se alguém me explicar onde foi que desobedeci a Deus”. (Jô 6.14-24)

Ele continua desabafando nos versos seguintes, mas a pergunta que me faço nesta manhã é: Que tipo de amiga tenho sido? Que tipo de fonte tenho sido para meus amigos? Será que eles encontram em mim água para saciar sua sede? Os que se aproximam desejosos em desenvolver uma amizade se frustram ou encontram de fato o que procuravam?

Todos nós entramos em contato com milhares de pessoas no decorrer da vida. Com algumas a afinidade é instantânea. A conversa flui natural e interessante, levando a uma sensação de integração que transcende as palavras. Parece que já sabemos o que a pessoa vai falar antes que ela sequer abra a boca. Nas amizades antigas, é como se o tempo não contasse. Mesmo depois de meses ou anos de separação, retomamos o contato e a intimidade assim que nos encontramos.

Mas o contrário também acontece. Por maior que seja o esforço, a comunicação não se completa, nada combina. A conversa não tem continuidade, fica superficial. Temos dificuldade em entender as idéias da pessoa, seus pontos de vista e valores nos parecem completamente estranhos. E ficamos com a impressão de que ela também não nos entende.

Alguns apresentam um empertigamento vistoso, mas faltam-lhes o sabor e o peso. Esse peso, essa plenitude está em grande parte dimensionada pela capacidade de dar-se aos outros. Você já reparou na coincidência que há entre pessoas felizes e pessoas generosas? O homem generoso, ao invés de buscar uma felicidade centrada em si mesmo, sente-se feliz com a felicidade alheia.

Certa vez alguém se aproximou de seu líder religioso e confessou o quanto estava insatisfeita com o sistema aplicado na educação cristã. Falou da sua dificuldade em se adaptar aquele sistema e aquele líder ouviu atentamente o que era dito e meses depois tudo foi modificado. As crianças ganharam salas confortáveis, arejadas, coloridas. O método de ensino foi reformulado, as crianças passaram a fazer passeios culturais. No final do ano toda a equipe se reunia com aquele líder em uma confraternização e um doce perfume invadia aquele ambiente, pois cada um estava preocupado com a felicidade do outro. Hoje muitos não trabalham mais com aquele líder, mas seus ensinamentos, sua generosidade tatuaram a alma de muitos professores. É alguém inesquecível, alguém amado, é como as águas que Davi sentia saudades.

Que tipo de amizade buscamos? Que tipo de amigos nós somos? Cercamos-nos de pessoas generosas que deslocam o centro dos interesses, passando do “eu” para os “outros”?

Uma de minhas orações a Deus é: Não quero caminhar com aqueles que se recusam a mudar, com aqueles que desejam permanecer centrados em si mesmo. Seja onde for, igreja, faculdade, trabalhos comunitários, na vizinhança, desejo andar com aqueles que amadureceram e centram a sua vida não no seu mesquinho planeta, mas nas necessidades do universo todo que os rodeia e que da mesma forma eu possa viver, pois estas amizades dão sentido a vida.

Que tenhamos pessoas ambicionadas em promover o amadurecimento daqueles que estão ao seu redor, pois seres humanos maduros fazem do próximo o centro de suas preocupações, tudo gira em torno do bem comum, na formação do caráter do próximo, na santificação do outro.

Que nossas palavras sejam breves, mas o significado se reflita nos nossos olhos. Que toda a nossa existência seja feita de dedicação. Uma oferenda, um permanente testemunho de fé em Deus. Que nossas vidas tenham um precioso significado. Que possamos compreender a diferença que há entre quem vive generosamente para cumprir uma missão e quem vive mesquinhamente voltado para si próprio.

Que você viva para os outros e para Deus. Que não pergunte o que os outros podem dar-lhe; mas saia ao encontro deles e pergunte o que precisam. Esteja disposta (o) a ser amiga (o). Que sua vida seja uma resposta aos apelos dos outros. Que nisto consista o sentido de sua vida e de sua felicidade.

Veio alguém a sua mente enquanto lia este texto? Não perca mais tempo. Ligue para esta pessoa, mande-lhe um e-mail. Estabeleça contato, firme hoje mesmo o início desta amizade.

Que o Senhor os livre de homens ameninados que querem para si os melhores “brinquedos” e as mais carinhosas atenções dos que os rodeiam. De pessoas que parecem ter como que atrofiada a dimensão do amor, que parecem estar incapacitadas para pensar nos outros. Daqueles que se servem dos outros e exploram os outros. Daqueles que não tem uma visão objetiva das coisas. Daqueles que sofrem de miopia ou hipermetropia espiritual. Daqueles que tem medo ou preguiça de se comprometer.

Mas que sua vida seja cercada por seres humanos que vivem de compromissos. Compromisso com a palavra empenhada, com a verdade objetiva, que deve ser buscada e vivida acima de tudo, pois é à base da própria vida e da convivência social, compromisso com os outros. Com aqueles que reconhecem o seu lugar no mundo e na sociedade. Daqueles que compreendem que o organismo social forma uma unidade e que cada parte é responsável pelo todo. Daqueles que participam na construção do bem comum sem inibições nem complexos, independentemente da categoria da sua contribuição pessoal. Afinal o que interessa é colaborar em benefício de todos, sem se importar com a maior ou menor relevância do posto ocupado. A isso se chama solidariedade, a qualidade de quem sabe colocar o bem comum acima do seu bem particular.

A grande arte de fazer amigos é uma maravilhosa aventura onde aprendemos a descobrir corações. Que você possa participar desta grande aventura.

Feliz 2009!

Regina Lopes