O que as Palavras Revelam
“Há alguns que falam como que espada penetrante, mas a língua dos sábios é saúde”. Pv 12.18
Thomas Brooks disse: “Conhecemos os metais pelo som que produzem e os homens por aquilo que falam”. Se nós somos o que pensamos e o que pensamos falamos, então se conclui, que nossas palavras revelam o tipo do nosso caráter. O conteúdo das nossas conversas manifesta que tipo de pessoa nós somos.
Palavras revelam caráter. Caráter é o aspecto da personalidade responsável pela forma habitual e constante de agir, peculiar a cada indivíduo. Resultado de progressiva adaptação do temperamento constitucional às condições ambientais, familiares, pedagógicas e sociais (Enciclopédia Barsa).
Durante estes dias estudando Platão para participar de um debate e ao mesmo tempo observando o comportamento humano, algumas coisas começam a saltar os olhos. Estando todos os dias com um grupo totalmente eclético podemos observar muitas vezes os indivíduos colocarem a máscara da justiça própria no rosto para impressionar destacando o próprio modo elevado de vida.
Indivíduos que observam com muito critério os valores e os padrões exteriores, mas na mente e no coração esses padrões não existem. Eles vivem uma mentira, uma farsa.
Há um abismo entre o que aparentam ser e o que de fato são. Em público são um referencial, mas no secreto revelam a feiúra de um caráter torto e mundano.
Mas algo me chama a atenção de forma especial (por motivos óbvios): a decadência religiosa, seus valores e idéias, seu modelo, o contexto religioso que condena os próprios cristãos.
Quando analisamos, avaliamos, julgamos as manifestações religiosas e o processo decisório, e suas manifestações, tentamos descobrir a sua significação, bem como a que motivações profundas do ser humano – legitimas ou não – elas correspondem. É evidente que tudo isto precisa começar com uma auto-análise (um exame minucioso de si mesmo).
Observamos a caracterização por uma degradação da prática do diálogo no meio cristão. Se olharmos para um lado, veremos grupos que ensinam a arte de convencer não através da busca de uma fé racional, mas da manipulação de crenças e interesses, e porque não dizer de metáforas, ambigüidades e ilusões.
Jesus durante seu ministério ensinou as pessoas a serem críticas, ou seja, analíticas e reflexivas. Jesus ensinou que não deveríamos apenas dizer e afirmar, mas nos preocuparmos em chegar à verdade, à certeza, à clareza: “Jesus e seus discípulos partiram para as aldeias de Cesárea de Filipe. No caminho perguntou-lhes: Quem dizem os homens que eu sou? Responderam eles: João Batista; outros: Elias; e ainda outros: Um dos profetas. Então lhes perguntou: Mas e vós quem dizeis que eu sou?”
Ele durante todo seu ministério ensinou que nosso discurso, ou seja, nossa exposição sobre o Evangelho deveria ser um discurso que se funda na legitimidade, tendo um caráter, como filhos da luz, que se impõe pela argumentação racional, que produz consensos legítimos, que se opõe à violência e à ilusão e mistificações ideológicas que caracterizam o discurso dos religiosos.
A Palavra de Deus visa expor e denunciar a fragilidade, a ausência de fundamento, o caráter de aparência das opiniões e pré-conceitos dos homens. Visa superar estes obstáculos. A Palavra de Deus faz com que tenhamos esta consciência
Ao enviar Seu Filho, Deus tinha como objetivo promover a transformação da realidade de cada indivíduo. Libertar o homem de tudo aquilo que não se funda no conhecimento da verdade.
Uma aluna ao citar o nome de Deus foi surpreendida pelo professor quando este lhe interrogou: “Que Deus? Que Leis? Que Mandamentos?” Apenas quando ela forneceu todas as informações necessárias que identificam o Deus do qual ela falava, ele aceitou sua argumentação.
Naquele momento eu compreendia que era necessário ir contra as opiniões que não se reconhecem como opinião, mas que se apresentam como certeza, que se baseia em fatos, na realidade particular, na experiência, tomando como totalidade do real, como fundamento da certeza aquilo que é parcial, contingente, mutável passageiro.
Deus é real e podemos provar a sua existência. Difícil seria provar que Ele não existe. O fator complicador é quando aceitamos realidades particulares, experiências particulares, aquilo que alguém hoje acha ser o certo e amanhã não julga mais ser o correto como fundamento da certeza.
Se os cristãos desde o principio fossem contra as opiniões que não se reconhecem como opinião, mas que se apresentam como certeza, que se baseiam em fatos particulares, experiências particulares. Caso denunciassem que uma opinião tem uma falsa consciência de si mesma, talvez não tivéssemos chegado ao ponto que chegamos.
Minha opinião é apenas minha opinião. Minhas experiências particulares com Deus são apenas minhas experiências. Precisamos parar com esta história de que “Deus revelou ao meu coração” a verdade para a vida do próximo. A opinião não se dá conta do caráter, e, portanto dos valores, crenças, interesses e preconceitos nela embutidos, ocultando as inconsistências da experiência sob uma falsa unidade: “No caminho perguntou-lhes: Quem dizem os homens que eu sou? Responderam eles: João Batista; outros: Elias; e ainda outros: Um dos profetas. Então lhes perguntou: Mas e vós quem dizeis que eu sou?”
Nossa linguagem só é válida quando expressa um conhecimento verdadeiro. As relações religiosas existentes em nosso contexto decadente refletem um estado de coisas que devem ser abandonado, superado, transformado.
É necessário um desmoronamento dessa realidade, buscando um consenso fundamentado no conhecimento verdadeiro, no entendimento racional, na possibilidade de justificação: “Portanto, rogo-vos, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como sacrifício vivo santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. Rm 12.1
Todas as vezes que discursamos emitimos opinião, estamos na verdade, expressando um interesse carregado de crenças e valores. E tudo aquilo que ouvimos ou lemos devemos submeter às regras da inteligibilidade e da sinceridade sob pena de não realizar sua função comunicativa: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”. Efésios 4.29.
É preciso desmascarar a manipulação, e as opiniões que não se apresentam como opiniões interpelando quem fala e se exigindo explicações, justificações, explicações de seu discurso.
Filhinha (o) antes mesmo da distinção, da oposição pura e simples entre o que é verdadeiro e o que é falso, é necessário buscar definições, clareza sobre o sentido das coisas, estabelecer o significado do que se diz. Qual é a razão da sua fé? Você saberia responder de forma racional e inteligível ou teria apenas argumentos subjetivos?
Você admite provisoriamente contradições para que elas sejam superadas ou sua opinião se apresenta como verdade absoluta? Filha (o) não há respostas prontas, trata-se de um processo que visa nos levar a reconhecer a fragilidade de nossas próprias crenças e ver que aquilo que dizemos muitas vezes não é o que parece ser. Através do diálogo podemos observar a opinião que se crê certa de si mesma, ao se expor se revela contraditória, inconseqüente.
Carecemos de uma atitude crítica, mostrando a necessidade de uma interrogação, e um questionamento de nossas próprias opiniões, de sua origem, de seus fundamentos. Quantas vezes percebemos cristãos emitindo suas opiniões como sendo verdade absoluta, totalmente pautada em crendices populares e tantas outras coisas como se fossem a verdade revelada através da Palavra de Deus e estes sempre encontram seguidores. Carecemos de crentes como os de Beréia! A partir de um exame minucioso é que descobrimos a essência, a natureza daquilo que se discute.
Porque você diz o que diz? O que significa aquilo que é dito? Você consegue explicar de forma inteligente e objetiva? Sócrates instigava os discípulos com o seguinte pensamento: “Conhece a ti mesmo”. O apóstolo Paulo nos faz o seguinte convite: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice” (1 Coríntios 11:28).
Quando obedecemos a Palavra de Deus, abandonamos progressivamente a opinião. Instaura-se entre nós uma nova relação, não mais baseada em interesses, desejos e inclinações particulares que dão origem a antagonismos. Trata-se agora da busca da verdade: “Mas se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. 1 Jo 1.7.
Encerro com uma advertência de Pedro: “Eu estou advertindo vocês de antemão, queridos irmãos, para que possam vigiar e não ser arrebatados pelos erros desses homens maus, a fim de que vocês mesmos não sejam confundidos também. Mas cresçam em força espiritual e conheçam melhor ao Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja todo glória e honra, sublime, tanto agora como eternamente.
Shalom Adonai!
Regina Lopes